03/10/2016

A esperança

“Toda a infelicidade dos homens provém da esperança.” *

Esperamos por amor e ele desilude-nos. Esperamos por amizade e somos atraiçoados. Esperamos por sabedoria e somos confrontados com a imensidão da nossa ignorância. Esperamos por paz e harmonia e só vemos guerra, conflitos e discussões. Esperamos por beleza e só vemos a sua ausência. Esperamos por sucesso e bens materiais, para vermos que mesmo alcança-los não traz felicidade. Esperamos pelo sol e só vemos as nuvens. Esperamos que os nossos entes queridos durem para sempre e eles vão-se tantas vezes antes de nós. Esperamos alcançar a felicidade e, por qualquer motivo que não conseguimos perceber, ela está sempre um passinho à frente de nós.
A esperança cria em nós determinadas expetativas que frequentemente não são cumpridas, ou nos chegam de forma diferente daquela que esperávamos e temos dificuldade em compreender que não recebemos aquilo que esperávamos, mas aquilo que na realidade precisávamos, sem que sequer o soubéssemos. Essas expetativas goradas são efetivamente a fonte de infelicidade dos homens, porque falham em trazer a felicidade que esperávamos e deixam-nos com a sensação de falhar, de não atingir algo que achamos que nos devia ser possível atingir, de perder aquilo que mais queríamos guardar.
E, porém, trazendo-nos tanta infelicidade, o que seria dos homens sem esperança? Sem o sonho que comanda a vida? Sem aspirarmos àquela paixão, àquele trabalho, àquelas férias paradisíacas? E ainda que a realidade se venha a revelar o inverso de tudo o que esperámos e nos traga a infelicidade, o esperar por algo doce, algo que nos fará sentir bem connosco próprios, é por si só uma forma de felicidade. E é preferível ser feliz por uns tempos com uma ilusão e depois ficar infeliz, do que não ter esperança em nada e sê-lo perpetuamente.

* Albert Camus 

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