Vista
do exterior, Catarina era uma mulher perfeita e bem-sucedida.
Muito
bonita, com os cabelos negros sempre impecavelmente esticados, bem maquilhada,
com uma figura invejável envolta em roupa de boa qualidade que lhe assentava
como uma luva. Um emprego de sucesso, com um cargo já de alguma importância
para a sua idade, ainda arranjava tempo para a rotina do ginásio que a mantinha
em forma.
Casamento
de sonho, com um homem igualmente bonito e bem-sucedido, com uma casa sempre em
ordem ao dispor das vistas, férias em locais elegantes de onde regressava
bronzeada e ainda mais bela.
Mas
Catarina não se sentia aquela pessoa que todos viam. Quando de manhã esticava o
cabelo e aplicava a maquilhagem, era porque se sentia feia e achava que os
cabelos desalinhados lhe ficavam mal e que sem a maquilhagem toda a gente
notaria as imperfeições da pele, os lábios mais finos do que gostaria e a quase
impercetível cicatriz no nariz que ela pensava ver-se a léguas.
A
roupa impecável usava-a para dar o ar de executiva que necessitava para se
sentir mais apta às responsabilidades e exigências do seu trabalho, sentindo
que ninguém a levaria a sério se usasse um estilo mais casual.
O
bom cargo conquistara-o com muitas horas de trabalho árduo e ainda assim
sentia-se constantemente uma fraude, sempre à espera que alguém lhe apontasse
falhas e erros, pelo que se esforçava cada vez mais. Ninguém sonhava que, na
véspera de cada reunião, a serena e sempre competente Catarina tinha que
recorrer a comprimidos para conseguir dormir.
Tal
como ninguém sonhava que o casamento perfeito pouco mais era que um juntar de interesses,
que o marido quase não lhe dava atenção ao chegar a casa, concentrando-se mais no
computador e no futebol, mas esperava que ela estivesse sempre disponível e para
os jantares com os clientes estrangeiros. E que constantemente era bombardeada
pela sogra (e pela própria mãe) com a eterna pergunta sobre quando é que vinham
os netinhos, quando Catarina não se sentia sequer capaz de tomar conta de si
própria na maioria dos dias.
Quem
a via de fora, pensava: Ali vai uma linda mulher, feliz e bem-sucedida. Mas o
patamar de exigência consigo própria de Catarina era muito elevado e sentia-se
feia, infeliz e um fracasso em muitas partes da sua vida.
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