20/06/2016

Migalhas

“And I wish you all the love in the world,
But most of all, I wish it from myself.”
Songbird, by Fleetwood Mac *

Será isto egoísmo? Sim, tem inequivocamente uma componente egoísta, porque apesar de te desejar toda a felicidade (e amor) quero que tenham origem em mim.
Por isso, mesmo sabendo que és feliz e amado, sou eu profundamente infeliz por não poder ser a fonte da tua felicidade. Uma infelicidade que por vezes me tolhe de tal forma que me impede de aproveitar as migalhas que recebo da tua amizade, as migalhas que são o meu único sustento e que são normalmente doces e suficientes para sobreviver, mas ocasionalmente são amargas e não as consigo tragar, deixando-me vazia, insatisfeita, à procura de algo mais que me alimente e tantas vezes sem o encontrar.
Mesmo as migalhas que me dás, a maioria das vezes tenho que ser eu a mendigá-las, qual pedinte de rua a pedir para uma sopa. E nem percebes o que me estás a dar. Não tens noção do quanto vivo para essas migalhinhas, mesmo quando me partem o coração e me deixam desfeita em pedaços, pedaços que cada dia se estilhaçam mais, ao ponto de não saber se ainda continuo a conseguir reconstruir-me toda.
Acho que não. Sinto que a cada dia há mais um bocadinho de mim que se perde, algures pelo caminho, no espaço entre mim e ti, nesse vazio que tu não vês que existe.
Porque não me afasto, perguntam-me? Porque apesar de tudo são as migalhas que me mantêm viva, porque prefiro sofrer e sentir, do que não sentir e andar por aí sem ansiar por nada. Porque prefiro ter algumas migalhinhas amargas que me fazem chorar, sofrer e passar fome, compensadas com as migalhas doces, do que não ter nada.

Um dia encontrarei quem me dê mais que migalhas. Provavelmente não serás tu. Mas até lá, és o meu sustento.



*  https://www.youtube.com/watch?v=51vjhSlUCcE

Sem comentários:

Enviar um comentário