“O destino, isso a que damos o nome de
destino, como todas as coisas deste mundo, não conhece a linha recta.” *
Avança
com curvas e contracurvas, num percurso sinuoso, que às vezes parece que anda
para trás em vez de ir em frente, seguindo os seus inexoráveis desígnios. Ou
seguirá o rumo que lhe damos, consciente ou inconscientemente?
Seja
algo que criamos ou algo que nos é dado, não é nunca uma linha reta, é um
caminho tortuoso, com silvas que é preciso desbravar, e pedras e buracos onde
tropeçar. Mas é também tantas vezes um caminho por um vale verdejante, ladeado
por campos floridos, em que há sol, borboletas e pássaros a cantar.
Mais
à frente podemos ter um bosque sombrio, de árvores quase fechadas sobre si, que
amedronta atravessar. E aí às vezes há difíceis decisões a tomar: atravessar o
bosque assustador, parar ali ou procurar um caminho alternativo, ainda que mais
longo e mais duro.
Podemos
culpar o destino se tivemos medo do bosque e parámos? Ou apenas se o
atravessamos e formos atacados por lobos ou ladrões? Ou será o destino
independente das nossas decisões e qualquer que seja o caminho que escolhemos
leva-nos ao mesmo sítio? Ou será mutável com as nossas decisões, mas
independente delas, abrindo a porta ao conceito de universos paralelos?
É
confortável ter algo que culpar se a vida não corre bem. Foi o destino que nos
juntou, foi o destino que nos separou. Foi o destino que nos levou para aqui ou
para acolá. Foi o destino que matou os nossos entes queridos, naquela hora. Mas
o destino também colide com o livre arbítrio de que somos dotados.
Por
isso, quanto da nossa vida é responsabilidade nossa, dos nossos atos ou
omissões, e quanto depende de algo que nos ultrapassa a todos e que não
podemos compreender, apenas saber que anda por linhas tortas?
* José Saramago, in "Cadernos de Lanzarote"
Sem comentários:
Enviar um comentário