Apesar
da ferida que, inconscientemente, me infligiste e que me deixou à beira do
abismo, continuo a ansiar por ti. Culpo este medo que sempre sinto de revelar
os meus sentimentos e penso que, se te tivesse mostrado o meu amor, se não
tivesse sempre resistido à forte tentação de te dar um beijo apaixonado, aquela
tentação que me corroía sempre que estávamos juntos, talvez agora pudesse estar
contigo e não a sofrer por ti.
Se
tu soubesses quão ardente essa tentação é (porque não o consigo evitar,
continuo a senti-la, mais forte até a cada dia, apesar de ser mais do que nunca
uma ilusão), perceberias também que o que a provoca é bem mais que uma mera
atração física, é algo que nem eu consigo compreender completamente, um desejo
de estar junto de ti, de falar contigo, de desnudar um pouco da minha alma, da minha vida, do meu
coração, e ao mesmo tempo absorver ao máximo tudo o que vem de ti, os teus
gostos, a tua vida, as tuas ambições e desejos, e senti-los meus também, e que partilhássemos tudo isto sem medos e de
coração aberto.
Mas
nunca fui mais do que um passarito tímido que não arrisca sair do ninho com
receio que o voo falhe e a queda seja grande demais. Nunca tive quem me
empurrasse para fora, para a aventura de tentar conquistar-te e fiquei
quietinha, à espera que viesses tu procurar-me, arrancar-me aos meus medos e
apresentar-me ao amor. Só que tu nunca vieste e agora é tarde de mais. Perdi-te
e, pior ainda, perdi a ilusão de te ter um dia. No entanto, a minha alma
continua a cantar-te permanentemente uma inaudível canção de amor.
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